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No Ano
de 1956, os Meninos da Rua Nova, juntamente com
amigos do Gaspar, jogavam uma pelada, sempre em
frente à minha casa, todos os dias.
Era uma alegria infinita, mas incomodava, com
vizinhos reclamando de barulho, bola caindo nos
quintais das casas, etc.
Um belo dia estávamos sentados do outro lado da rua,
de frente para o pasto que hoje é de Bodão, não
haviam casas na rua como é hoje. Ficamos observando
lá embaixo e comentamos que um campinho naquele
local seria a solução dos nossos problemas.
Naquele tempo, Didico de Dona Maria Cota, arrendava
aquele terreno onde colocava vários de seus cavalos
para pastar. Sabíamos que Didico administrava aquele
terreno e só ele poderia nos autorizar a fazer o
campinho. O problema era quem iria conversar com ele
e fazer o pedido. Nós todos afinamos, mas apareceu
um menino menor do que nós e teve peito para fazer o
pedido diretamente ao Sr. Didico.
Quem foi ele? Branco, irmão de Nivota e Ademir.
Sem qualquer cerimônia, realizou o pedido.
Didico com muita gentileza e boa vontade nos
autorizou a transformar uma parte do seu terreno no
"Famoso" Campinho da Rua Nova".
Com a autorização, a meninada se organizou para a
empreitada.
Nunca vi na minha vida tanta pá, picareta, enxada,
enxadão, facão, carrinho de mão, alegria e
algazarra.
Um dos grandes desafios da nossa jornada foi
arrancar um enorme pé de "mexerica candongueira" que
se encontrava localizada exatamente no centro do
campinho. Depois de muito “cavacar”, chegamos à
conclusão que estava difícil demais e resolvemos
comprar 2 litros de gasolina e metemos fogo no
Gigante. Aí ficou mais fácil, arrancamos e
arrastamos com cordas e jogamos no Ribeirão.
Faltavam as traves. Pegamos o facão e do bambuzal à
beira do ribeirão, retiramos o necessário.
Em dois dias estava pronto o nosso tão sonhado
Campinho.
Nossos pais fizeram uma vaquinha e compramos na Loja
do Sr.Ernesto de Souza, a nossa primeira Bola.
Depois
da "Lua de Mel" das primeiras peladas, nos reunimos
e ficou acertado que faríamos um Torneio
Quadrangular para marcar oficialmente a Inauguração
do Campinho.
Convidamos os Times dos Bairros da Fábrica, Baixada
e Santa Cruz da Bananeira.
Os confrontos ficaram assim:
Rua Nova X Fábrica e Santa Cruz X Baixada.
Os vencedores fariam a final do torneio, havendo
empates a decisão iria para os pênaltis;
O time da Rua Nova era muito forte e arrasou o time
da Fábrica por 12 X 3. No segundo jogo a equipe do
Santa Cruz derrotou a Baixada 3 X 2.
A final foi Rua Nova X Santa Cruz.
A equipe da Rua Nova tinha os seguintes jogadores :
Paulinho Rebeca(Irmão de Vaquinha Goleiro do AFC,
Adair de Juquita, Tatim, Fernando Rodrigues, Chico
de Nelson, Fabinho, Marcelo de Zé Faustino,
Vidrilho, Dinho de Quinzin, Bené de Campeão e Zé de
Inhozito.
Para evitar confusão, Juiz adulto no apito.
A Bola do jogo era de borracha vermelha e queimava o
pé da gente que era uma beleza.
Antes do início da decisão, João Peida Fogo, goleiro
do Santa, pegou um pedaço de pau e desenhou uma Cruz
dentro do seu gol e gritou alto para todo mundo
ouvir : - Aqui hoje não passa nada!!
Ficamos assustados e preocupados, mas nosso time era
muito superior.
Bola rolando, começou o massacre.
Alugamos o meio de campo e partimos pra cima, mas
esbarramos em João Peida Fogo, que fechou o gol do
Santa, conforme prometera.
Várias bolas na trave, zagueiro salvando em cima da
linha, João pegando tudo e nada de gol.
O Juiz já consultava o seu relógio "Lanco Modelo
11", foi quando já no desespero, com a unha do
dedão, meia grande, larguei um bicudão pra gol. João
Peida Fogo já se preparava para mais uma “ponte”, de
repente a bola de Borracha partiu no meio, indo
metade para um canto e a outra metade no outro
canto.
João Peida Fogo ficou doido,agarrou firme uma metade
e a outra entrou no outro canto.
O Juiz validou o gol e João Peida Fogo virou uma
fera, partindo pra cima de mim e me agarrou pelo
pescoço gritando:
- Que gol?? Que gol é esse, metade da bola está aqui
comigo!!
Respondi :
- Mas a outra metade entrou.
João retrucou :
_ E daí?
À partir daí, muita confusão, o bicho pegou, muita
pancadaria, arrancaram as traves e foi preciso a
intervenção de adultos para acalmar os nervos.
No fim das contas vencemos pelo inédito placar de
“Meio” a Zero.
Essa foi a história da criação do campinho da Rua
Nova que me lembro com muita alegria e satisfação.
Um abraço a todos os Alvinopolenses.