Meu saudoso pai, Caetaninho Carvalho, era um fanático
torcedor do Industrial Sport Club, de Alvinópolis.
Contava com muito orgulho, que tinha sido um dos
fundadores do clube, em 1938.
Na década de 1950, era enorme a rivalidade entre o
Industrial e o Alvinopolense.
Muitas
vezes, torcedores
chegavam até as vias de fato, ou, se preferirem, saiam
era nos pescoções, mesmo!!!
Devido a essa rivalidade, todo time que ganhava do
Alvinopolense, o Industrial convidava pra jogar. E vice
versa.
Certa feita, o Alvinopolense trouxe um time de João
Monlevade pra jogar aqui em Alvinópolis.
Time bom, bem treinado, sapecou três a zero no
Alvinopolense !!!
Pra quê !!!
O Industrial foi logo convidando o mesmo time, pra fazer
um amistoso !!!
- Vamos mostrar quem é o melhor !!!
Diziam os dirigentes celestes.
Jogo marcado pra um mês depois.
Tempo suficiente pro Industrial treinar e vingar o rival
!!!
Na semana do jogo, o goleiro titular do Industrial ,
Tito Ossada, por sinal, excelente goleiro, se
machuca...
Vai pegar no gol o seu reserva, Zé Pelado. Tratorista
dos bons, tomador de goles, melhor ainda... Mas,
goleiro... Ficou difícil.
Preocupado
com a situação, junto à qualidade do time visitante, meu
pai, aliado a Jucazinho, outro dirigente celeste,
ficaram sabendo que no povoado dos Dias tinha um
benzedor, chamado Raimundo Guiné, que era "tiro e
queda".
Meu pai não era de acreditar muito nessas rezas, mas,
por via das dúvidas...
Combinou que o benzedor ficaria atrás do gol onde Zé
Pelado iria atuar e fazer os trabalhos de “fechar do
gol”.
No dia do jogo, Raimundo chegou bem antes da partida,
trajado num terno marrom, e fez um estudo do campo.
Depois verificou na sua bolsa os produtos que fariam
parte da benzição.
Retirou
uma garrafinha de água benta, muita arruda,
raízes diversas, fez orações, caminhou dentro do gol
proferindo algumas palavras indecifráveis, olhando pro
céu e benzendo.
No final
da oração, sempre dizia :
-Aqui tá fechado !
Fez este
mesmo ritual várias vezes, sob o olhar dos dirigentes
azuis.
Todos
saíram convencidos que aquilo seria a salvação do time
azul e branco.
Bola que rola, e o time de Monlevade, faz um gol, dois,
três, quatro, cinco...
Todos em falha de Zé Pelado!!! Termina o primeiro
tempo.
Meu pai, fulo de raiva, vai tirar satisfações com o
benzedor:
-Eu tô te pagando uma fortuna pra fazer esse serviço e
nós estamos tomando uma balaiada dessas?
- É
seu Caetaninho, com Zé Pelado no gol, não tem macumba
que dê jeito !!!!