Max Gehringer
A importância dos novos empreendedores
A CADA DIA QUE PASSA, ABRIR O PRÓPRIO NEGÓCIO ESTÁ DEIXANDO
DE ser uma alternativa para poucos e se tornando quase uma
necessidade para muitos. Por um motivo muito simples. Não
existe emprego suficiente para todo mundo. Para cada dez
jovens bem qualificados, não existem mais que três empregos
para jovens bem qualificados. É claro que ainda existem
muitos entraves sérios para quem quer abrir seu próprio
negócio. O maior deles é a dificuldade para conseguir um
financiamento. As exigências são muitas e os juros são
indecentes. A segunda é a burocracia. O que lá fora leva
dias, aqui leva meses. A terceira são os impostos. O Brasil
é um dos campeões mundiais de impostos. E a quarta
dificuldade é psicológica. Existe uma estatística que diz
que, de cada dez pequenas empresas que são abertas, cinco
desaparecem antes de completar três anos. Todo mundo se
assusta com esse risco, mas pouca gente pergunta qual seria
esse número nos Estados Unidos ou na Europa. E a resposta é:
mais ou menos a mesma coisa que no Brasil. Lá fora as
pessoas encontram menos entraves burocráticos para abrir uma
empresa, pagam menos impostos, contam com juros mais
camaradas, mas
metade das empresas quebra assim mesmo. De qualquer forma,
tanto lá como aqui, 50% de chances de acertar continua sendo
um número bastante aceitável. À medida que o tempo vai
passando, mais jovens vão se convencendo de que terão que
trabalhar para si mesmos, porque não haverá vagas para
trabalhar para os outros. Esses jovens, os novos
empreendedores, são o verdadeiro futuro do Brasil. Nenhum,
dos países mais ricos e poderosos do mundo, ficou rico
porque formou bons empregados. Esses países só ficaram ricos
porque formaram grandes empreendedores.
Nação de administradores
ATUALMENTE, O CURSO SUPERIOR QUE MAIS FORMA PROFISSIONAIS NO
Brasil é o de Administração de Empresas. Só neste ano, cerca
de 560 mil novos administradores serão diplomados No mercado
em geral, ainda há mais advogados que administradores. Mas,
a partir de 2007, os administradores já serão maioria.
Parabéns à classe. Mas há uma coisa muito importante sobre
essa quase profissão número 1. Administração, em si, não é
uma arte, nem uma ciência, nem uma técnica. Administração é,
simplesmente, o somatório de conhecimentos de diversas
áreas. Uma pessoa pode passar quatro anos fazendo um curso
bem específico, como Contabilidade, Economia, Marketing ou
Informática. Num curso de Administração, cada uma dessas
ciências se transforma em uma matéria. E não existe nenhuma
matéria em Administração que seja ensinada apenas no curso
de Administração. Por isso, ao final do curso, o
Administrador terá uma noção generalista sobre uma empresa.
Irá sair sabendo um pouco sobre tudo. Mas depois, na vida
prática, irá descobrir que sabe menos economia que um
economista, ou menos estatística que um engenheiro. Irá
descobrir também que, na hora de nomear um presidente,
bancos preferem economistas. Indústrias preferem
engenheiros. Empresas de consumo preferem marqueteiros. E,
finalmente, irá descobrir que essa gente fez um MBA, que é
um curso avançado de Administração. O que significa que o
especialista, para crescer na carreira, precisa aprender a
ser generalista. Daí, o administrador, se quiser competir
pelos cargos mais altos da empresa, terá que fazer o caminho
inverso. Precisará continuar estudando até tornar-se um
especialista. Para o bom administrador, o diploma não é a
linha de chegada. É um excelente ponto de partida.
A Lei de Gerson
MUITA GENTE DIZ QUE A UNICA LEI QUE PEGOU NO BRASIL FOI A
LEI DE Gerson. Como a lei de Gerson acaba de completar 30
anos de vida e continua sendo citada até hoje, acho que vale
a pena, como curiosidade, contar de onde ela veio, já que
nem todo mundo conhece a história. Em 1976, a empresa de
cigarros RJ Reynolds decidiu lançar uma marca de cigarros
mais baratos, o Vila Rica. E contratou como
garoto-propaganda o grande jogador de futebol Gerson de
Oliveira Nunes, o Canhotinha de Ouro, tri campeão mundial
pelo Brasil em 1970. Gerson era o garoto-propaganda ideal
para o Vila Rica, por dois motivos. O primeiro é que, na
época, Gerson fumava três maços de cigarros por dia. E o
segundo motivo é que, dentro de campo, Gerson era
especialista em ganhar bolas divididas, o que na linguagem
do futebol era chamado de levar vantagem. E aí aparece o bom
Gerson na telinha, perguntando: “Brasileiro gosta de levar
vantagem em tudo, certo?”. O apelo comercial dessa vantagem
era o fato de o Vila Rica ser mais barato que seus
concorrentes, mas a frase imediatamente se popularizou como
sinônimo de “enganar o próximo, não importa como”. E surgiu
a lei de Gerson, uma injustiça para com o próprio Gerson,
uma pessoa que sempre foi sincera e honesta em tudo o que
dizia e fazia. E uma injustiça maior ainda para com o povo
brasileiro. Nós não somos um país onde todo mundo quer
enganar todo mundo o tempo todo. Nós somos um país onde
muitos são sempre enganados por meia dúzia de espertinhos.
Provavelmente, para descarregar o peso da própria
consciência, foram esses espertinhos que popularizaram a lei
de Gerson. Para tentar mostrar que o resto de nós era
igualzinho a eles. Mas nós não somos.
DNA nacional
DE MODO GERAL, NÓS, BRASILEIROS, SOMOS UM POVO ESPERTO. A
ESPERTEZA parece que faz parte do nosso DNA. Eu trabalhei em
multinacional americana, todos os americanos que conheci
eram pessoas bem normais. Falavam as mesmas coisas e
repetiam os mesmos chavões. Eram previsíveis e não
impressionavam muito. As vezes, pareciam até ingênuos. Quem
vai assistir a uma palestra de um desses gurus americanos
que vêm ao Brasil de vez em quando, sai com aquela impressão
de que não ouviu nada de novo. Ouviu, apenas, a repetição de
conceitos conhecidos. Acontece que os Estados Unidos são o
país que mais tem prêmios Nobel no mundo, que mais registra
patentes e que mais ganha dinheiro. Eles podem até não
parecer espertos, mas são tremendamente organizados. Por
isso, individualmente, não impressionam. Mas, coletivamente,
são a maior potência do mundo. Nós, individualmente, somos
espertos. Mas, coletivamente, somos meio bagunçados. Por
isso, um dos desafios das empresas brasileiras sempre foi o
de convencer alguns de seus funcionários a serem um pouco
menos espertos e um pouco mais organizados. Porque, ao
contrário do que parece, esperteza e criatividade não são
sinônimos. Esperto é o que acha que pode enganar o sistema.
Organizado é o que enxerga as vantagens de entender e
respeitar o sistema e dentro dele poder exercitar sua
criatividade. Minha experiência em empresas me diz que 90%
dos funcionários brasileiros concordam que uma boa
organização traz muito mais vantagens. Mas os outros 10%
preferem, apenas, tentar ser mais espertos que o sistema.
São pessoas que a gente vê por aí, todo dia, metidas em
fraudes, subornos e mensalões. Ou, simplesmente, furando
filas. A esperteza beneficia um, a organização beneficia a
todos. Parece simples, e é simples. Só falta, agora,
convencer os 10% de espertos.